A PRÁTICA CARITATIVA
Quando pronunciamos a palavra caridade, logo nos vem à mente
a idéia de que é uma prática religiosa que tem por finalidade a assistência
material e espiritual prestada aos mais pobres da sociedade.
Uma ação fundada em valores como altruísmo, bondade, e que
teria sido pregada e incentivada por Jesus Cristo (nos restringiremos à
sociedade cristã-ocidental), depois por seus discípulos e, posteriormente, por
seus representantes.
A partir dessa concepção cristã de caridade, decidimos
elaborar um texto no qual pudesse apresentar como e porque este valor cristão
foi incentivado pelas diferentes religiões e os efeitos desta prática na
população carente de bens materiais.
Como e porque este valor cristão foi incentivado pelas
diferentes religiões e os efeitos desta prática na população carente de bens
materiais.
No entanto, quando percorremos a produção historiográfica
voltada para a caridade, pouco é encontrado.
Por este motivo, não nos detivemos apenas em um historiador,
mas procuramos ousadamente, construir, de forma breve e com várias lacunas, a
trajetória história da prática caritativa.
Neste sentido, tendo por objeto histórico a caridade enquanto
manifestação religiosa, partimos do princípio de que a religião produz,
conserva e garante uma quantidade de significados que cada indivíduo tem acerca
de sua experiência pessoal, os quais são reproduzidos nas ações diárias em meio
a uma realidade social marcada por conflitos, que por sua vez, são produtos
ativos do que ocorre nos demais campos - econômico, político, social e
cultural.
Nas fontes documentais, como folders, jornais das igrejas,
livros, que encontramos material para nossa análise, bem como nas fontes orais,
na qual pudemos verificar as intenções de pastores de diferentes denominações e
de padres da Igreja Católica em suas atividades caritativas.
Na verdade, a idéia e a ação de ajuda aos excluídos dos bens
materiais da sociedade promovida por uma instituição religiosa já vem de longa
data.
Se voltar a atenção para a Igreja Católica, verifica-se que
desde o início de sua expansão na Europa, a caridade foi pregada como valor a
ser cultivado para quem desejava a salvação.
O discurso cristão acerca da caridade não teve por fundamento
somente o amor ao próximo em situação de extrema pobreza, mas também teve por
finalidade ampliar, fortalecer e legitimar a hegemonia política e econômica dos
bispos da Igreja, bem como controlar os pobres que poderiam tornar-se uma
perigosa fonte de tensões sociais.
Com a rápida expansão do cristianismo para o Ocidente e a
adoção deste como religião oficial do Império Romano, possibilitou à Igreja -
leia-se bispos – seu fortalecimento político com a ingerência em assuntos antes
restritos aos funcionários do Império, no caso em questão, a assistência
material aos desprovidos de condições materiais e físicas de sobrevivência,
como as crianças sem família, a viúva, o peregrino, os mendigos e os enfermos.
Neste contexto, a caridade serviu como um instrumento para
aliviar as tensões sociais nas cidades, contribuindo para manter uma aparente
paz social.
A Igreja tornou-se a mediadora na ajuda de reis, nobres e
mesmo de camponeses aos pobres, pois cabia a ela redistribuir os donativos dos
primeiros para o segundo.
Por meio de doações constantes, os mais aquinhoados esperavam
que se, a produção historiográfica voltada para a assistência aos pobres no
período de expansão do papel social da Igreja na alta Idade Média concentrou-se
na Península Ibérica, principalmente a partir do século VI, tendo em vista que
houve uma expressiva produção intelectual dos clérigos daquele período,
possibilitando aos historiadores compreender como a sociedade visigoda assistia
aos pobres dos aglomerados urbanos.
Avançando no tempo, verifica-se que a atuação dos bispos da
Igreja junto aos excluídos dos bens materiais não arrefeceu, ao contrário, a
prática caritativa continuou sendo exercida por clérigos e, logo depois, pelos
cônegos das catedrais e monges.
É importante frisar que algumas obras sociais que surgiam por
orientação e incentivo de religiosos da Idade Média, perduram ainda nos dias
atuais, dado a sua capacidade de organização interna para atingir os objetivos
propostos em seu nascimento, bem como sua capacidade de adaptação à realidade
onde se insere.
Citaremos brevemente algumas delas.
Nos séculos XII-XIII, com as ordens mendicantes, houve uma ampliação da atividade assistencial da Igreja, já que estas determinaram que seus frades e conventos vivessem em pobreza, limitando a posse de bens ao mínimo necessário, vivendo dos trabalhos manuais e da caridade de seus fiéis, ao mesmo tempo em que desenvolveram uma atividade pastoral, voltada para a pregação, e tendo a assistência aos desprovidos de bens como objeto de ação, com atuação nos centros urbanos que retomaram, no período, seu crescimento econômico e populacional.
Nesse sentido, Francisco de Assis (1182-1226) e Domingos de
Gusmão (1170-1221), fundadores das principais ordens mendicantes, inovaram na
prática da caridade, porque, conforme Mollat (1989, p. 117) “declararam o valor
do pobre e sua sacralização através do modelo de Cristo”, em uma sociedade em
que humilhava e desconsiderava os que eram privados de bens.
Ambos trouxeram e implantaram um novo olhar diante do pobre,
ou seja, vê-lo por seu valor espiritual e humano e não mais como instrumento de
salvação do mais abastado.
À medida que a “revolução comercial” avançava pelas
principais cidades européias, aumentava o número de pedintes, viúvas, enfermos,
crianças sem famílias perambulando pelas ruas, representando, para a nobreza e
para a pequena burguesia nascente, fonte permanente de tensão social.
A Igreja Católica, com o apoio e incentivo desses dois
grupos, continuava a ser a instituição com o monopólio da assistência à
população carente, criando e administrando hospitais, albergues e os asilos
então existentes.
No ano de 1498, a irmã do rei de Portugal, criou, sob
influência do frei e seu confessor, a Irmandade de Nossa Senhora da Misericórdia,
cujo objetivo era amplo e diversificado, como ensinar, punir os malfeitores,
tratar os doentes, alimentar os famintos, abrigar os pobres, indo, como se pode
verificar, além do atendimento aos enfermos.
A Santa Casa espalhou-se rapidamente por todo o Império
Português, tornando-se uma irmandade leiga de poder e prestígio no que se
refere à prática e obra de caridade.
Outra atividade assistencial fundamentada na caridade e que
perdura ao longo dos séculos, são as obras sociais fundadas pelo padre francês
(São) Vicente de Paulo (1581-1660), voltadas para a assistência aos pobres,
como a Congregação da Missão, a Congregação das Filhas da Caridade e a
Associação das Damas da Caridade, todas tendo por finalidade a assistência
material e espiritual à população carente residente nas cidades.
Ainda na França, no século XIX surgiu um movimento de fiéis
da Igreja liderados pelo estudante de Direito da Sorbonne, Antônio Frederico
Ozanam, que tinha por objetivo ajudar com recursos materiais, como roupas,
alimentos e remédios, as famílias pobres residentes na cidade de Paris,
dando-se o nome de conferência da caridade, posteriormente, conferência
vicentina, porque inspirada no trabalho desenvolvido por São Vicente de Paulo.
Esse movimento leigo vinculado à Igreja Católica (mas não
submetido à autoridade eclesiástica) e voltado fundamentalmente para a
assistência material e espiritual aos mais carentes, apresentou rápido
crescimento: após quatro anos de existência, já eram contabilizadas seis
conferências em Paris e filiais em cinco cidades:
Lyon, Nantes, Rennes, Dijon e Toulouse (Silva, 1999).
O que deve ser destacado nesse breve balanço historiográfico
a respeito da caridade cristã é o fato de que ela estava assentada na idéia de
que teria por função colocar rico e pobre frente a frente, com o propósito de
buscar a conciliação e a convivência pacífica, tendo em vista que havia o
receio de que os mais pobres provocassem um levante social, seja no período de
retomada do crescimento das cidades, seja na sociedade pós-Revolução
Industrial, quando era forte a insatisfação entre os operários, devido aos
baixíssimos salários e as péssimas condições de vida e de trabalho.
Profundas e irreversíveis, as mudanças sociais, culturais,
políticas e econômicas que abalaram a Europa - divulgação do pensamento dos
principais teóricos do período com a invenção da imprensa, o pensamento
humanista penetrando os círculos intelectuais em detrimento do pensamento
teológico, o crescimento populacional, o aumento e fortalecimento do comércio
entre as cidades, com o conseqüente aumento da produção industrial, a expansão
marítima, que alargou as fronteiras da Europa - contribuíram para abalar a
hegemonia da Igreja Católica neste continente.
E foi nesse contexto de grandes mudanças que se deu a eclosão
e consolidação de uma teologia divergente da teologia da Igreja Católica.
Os chamados reformadores levaram a teologia e liturgia para
outros rumos, não priorizando, por exemplo, as ações práticas, ou seja, as
obras exteriores - como as obras sociais - mas a necessidade de fortalecimento
da fé e da prática religiosa; além de rejeitarem a existência de mediadores na
relação homem e Deus, já que a fé seria suficiente para este fim.
Esse novo panorama religioso e teológico trouxe conseqüências
nas esferas tanto social e cultural, como política e econômica da sociedade
européia.
Novos encaminhamentos se fizeram sentir no comportamento e
nas ações política e econômica dos neoconversos.
Nos países em que a Reforma Protestante alcançou grande
repercussão, com a eclosão de movimentes religiosos e a fundação de novas
igrejas, a caridade não era exortada como principal ação ou fonte de salvação.
As nascentes igrejas protestantes, como as Igrejas Luterana e
Anglicana, as que vieram no rastro do movimento pietista e do metodismo, na
área social voltaram-se majoritariamente para a educação, com a fundação de
escolas para crianças e adolescentes e universidades: a dedicação a Deus e o
trabalho como vocação maior a ser seguida eram os principais valores pregados
nestas sociedades e a educação seria um instrumento para este fim.
Nos demais países em que a Igreja Católica manteve seu poder
de influência, a caridade continuava a ser pregada enquanto virtude maior a ser
alcançada, determinando que o encontro com Deus se daria de forma mais completa
quanto mais o fiel praticasse e vivesse a caridade, a fé e a esperança - a
denominada virtude teologal, formulada por um dos disseminadores do
cristianismo, São Paulo.
A caridade, segundo essa concepção, possibilitaria uma
relação de união e comunhão com o outro, seu irmão, porque considerado filho do
mesmo Pai, garantindo a salvação a rico e pobre, ou seja, a recompensa de uma
vida eterna plena de amor e paz, já que os levariam a ações de acolhimento e
humildade: ao primeiro porque ajudaria e ao segundo porque aceitaria o que lhe
é oferecido.
Não conceberia o conflito e a discórdia entre quem tem mais e
quem tem menos.
Portanto, onde a caridade se faria presente, as desavenças
desapareceriam.
Mais uma vez avançando no tempo e voltando a atenção para o
Brasil, verificase que aqui também a assistência aos mais pobres coube à Igreja
Católica, seja por meio de ações individuais de seus fiéis, seja pelas
instituições mantidas pela mesma, como as Santas Casa e os albergues.
Cabe frisar que a situação econômica e social do país não
interessava à Igreja, sua preocupação era ampliar a área de influência entre as
classes dirigentes e grandes plantadores de cana-de-açúcar e café (leia-se
latifundiários).
Com o lento início do processo de industrialização
brasileira, no final do século XIX, o crescimento dos centros urbanos e, como
conseqüência, o aumento de famílias vivendo em situação de miséria, do número
de trabalhadores que não conseguiam manter a si e a sua família apenas com seu
salário, constatou-se que, ao lado de ações individuais de cunho caritativo, a
hierarquia católica estimulou a fundação de instituições que atendessem a estes
segmentos que viviam em estado de extrema carência, como por exemplo, a
Associação das Senhoras Brasileiras (1920), no Rio de Janeiro e a Liga das
Senhoras Católicas (1923), em São Paulo, com o propósito de amenizar a pobreza
e contribuir para restabelecer a ordem social e política e, principalmente,
evitar que as idéias socialistas e comunistas se alastrassem entre os
trabalhadores das indústrias, pois o período foi marcado pela ascensão do
movimento operário, exigindo do Estado e dos empresários e industriais,
respostas para a crescente demanda do operariado urbano.
No que se refere às igrejas protestantes históricas, estas
continuaram a dar maior destaque à área da educação, com a fundação de
universidades e colégios.
As ações assistenciais limitavam-se a iniciativa particular
de pastores, não sendo uma orientação da hierarquia das diferentes denominações
religiosas.
Com a Revolução de 30 e ascensão de Getúlio Vargas ao poder,
houve uma ampliação da legislação social e trabalhista, bem como maior atenção
à área social e assistencial.
Para isto, o Estado convocou a Igreja, por conta de sua
experiência neste setor e por sua contribuição na manutenção da ordem, a partir
de um discurso paternalista e autoritário, o qual visava harmonizar os grupos
sociais em conflito.
As primeiras medidas de proteção social implementadas pelo
Estado destinavam-se àqueles que não possuíam condições de garantir sua
manutenção e reprodução a partir de sua inserção no mercado, isto é, aos deficientes,
às crianças, aos idosos.
Contínua e progressivamente, o Estado foi assumindo algumas
ações na área da assistência que, por sua vez, foi adaptando-se ao contexto
econômico, social e político pelo qual passava a sociedade brasileira,
preservando, no entanto, seu caráter de ação emergencial, fragmentada e
compensatória, com características marcadamente paternalistas e repressoras e
em sintonia com a benemerência dos indivíduos ligados à igreja e o voluntariado
privados.
Na verdade, a assistência social ao longo do tempo foi se
configurando em um recurso do Estado para enfrentar as seqüelas da questão
social, haja vista que os problemas sociais foram gerando inquietações e
conflitos entre os que não conseguiam manter-se com o mínimo necessário, demandando
soluções que iam além da repressão policial, como ações destinadas a minorar os
efeitos de situações como a fome, a doença, a falta de moradia, de educação.
A criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, do
Ministério da Educação e Saúde são exemplos dessa maior atenção, o que não
significava a solução dos problemas sociais.
Enquanto o processo de industrialização corria a pleno vapor
na região sudeste, nas demais regiões do país a realidade era outra:
trabalhadores rurais eram expulsos de suas terras pela seca ou pelos
proprietários de grandes latifúndios e migravam para as cidades em busca de
melhores condições de vida e trabalho.
Ao chegarem aos centros urbanos, iam morar em favelas ou cortiços, porque não conseguiam trabalho que lhes garantissem melhores condições de vida, por conta da pouca ou nenhuma qualificação, longe do centro da cidade e do local de trabalho, com transporte insuficiente e à margem do comércio, sem condições de acesso aos (poucos disponíveis) serviços públicos, como saúde, educação, assistência social.
As décadas de 1950 e 1960 foram marcadas por um intenso
processo de industrialização e urbanização do Brasil, com a conseqüente
diversificação de sua economia, tendo em vista que a indústria automobilística
abriu campo para outras indústrias, como refinaria de petróleo, química,
borracha, autopeças.
Questão social entendida como um conjunto de problemas
políticos, econômicos e sociais decorrentes da generalização do trabalho livre
na sociedade capitalista.
Operários das indústrias cresceu, aumentando o consumo e
favorecendo as indústrias de consumo.
Indústrias de outros setores também ocuparam espaços, com a
instalação de indústria de fertilizantes e laboratórios de remédios.
Todavia, mais uma vez o crescimento industrial não se
estendeu para todo o país.
O Nordeste, região mais pobre do Brasil, sofreu com secas e
uma enchente nos anos de 1950.
Houve saques nos armazéns e cidades e milhares de homens,
mulheres, idosos, crianças e adolescentes migraram para as regiões sul e
sudeste, principalmente São Paulo, à procura de trabalho.
Essa nova realidade econômica, social e política também
provocou a formação de uma sociedade de massa carente de novos valores morais e
espirituais, e de igrejas que atendessem aos anseios de uma nova leva de
imigrantes e trabalhadores que se instalavam nas cidades.
Assim, uma nova forma de viver e expressar a religiosidade –
e que já havia se instalado no Brasil em 1910 e 1911 a partir do surgimento de
duas igrejas, a Congregação Cristã no Brasil e a Assembléia de Deus,
respectivamente - cresceu e ganhou maior visibilidade na sociedade: as igrejas
pentecostais.
Ademais, os neoconversos também buscavam nessas novas igrejas
antigos valores, como amizade, ajuda e apoio da fraternidade cristã, isto é, a
solidariedade do próximo que se encontrava na mesma situação de exclusão social
e em precárias condições de manter a si e a sua família.
Quanto a ação das instituições religiosas no que tange a
atenção aos mais empobrecidos, as igrejas católica e protestantes
diferenciavam-se.
A primeira adotou novas práticas, como o Movimento de
Educação de Base, Juventude Operária Católica, Juventude Universitária
Católica, as quais passaram a dividir espaços com práticas tradicionais, como
Congregado Mariano, Filhas de Maria, Apostolado da Oração, havendo maior
contato com a pobreza das cidades e campos.
Tais práticas levaram a novos e diferentes discursos
religiosos.
Já as demais igrejas continuavam centrando sua ação na
educação e pontuais ações assistenciais, enquanto as pentecostais lentamente
avançavam entre os trabalhadores sub-empregados e desempregados, bem como entre
suas famílias, apresenta como modelo
explicativo para o surgimento e crescimento de uma diversidade de denominações
religiosas no Brasil, a metáfora de ondas, a partir de um corte histórico
institucional.
Primeira onda: 1910 -1911; segunda onda: 1950 – 1960;
terceira onda: 1970 - 1980.
pregando a bênção do Espírito Santo, assim como a cura e a
libertação das forças malignas para solução dos problemas cotidianos.
Na década de 1970, a situação econômica e social deteriorou-se ainda mais, apesar de o Brasil estar vivendo o período do chamado "milagre econômico" (1968 -1973) quando se registraram altas taxas de crescimento, com amplo programa de investimentos do Estado na economia e aumento dos investimentos estrangeiros.
Na verdade, o chamado "milagre econômico"
brasileiro não ocorreu por "obra divina", mas a partir de ações na
área econômica, que assentaram as bases materiais para assegurar a supremacia
da burguesia industrial e financeira.
Contudo, o excelente desempenho da economia não se estendeu
para toda a população brasileira, haja vista os baixos salários, o desemprego,
a impossibilidade de acesso a bens e serviços sociais, como educação, saúde,
habitação, transporte coletivo eficiente.
Voltando mais uma vez para a atuação das igrejas na arena
política e social, constata-se que diante de um inimigo concreto, a ditadura
militar e seus agentes, que a todos perseguia sem distinção de confissão
religiosa, houve uma lenta aproximação.
No interior da Igreja Católica surgiram e fortaleceram-se as
comunidades cristãs de base e as pastorais sociais que difundiram e
aprofundaram a expressão e a celebração da fé e da esperança ligadas a uma
prática política.
Nesse mesmo período, as ações sócio-assistenciais de algumas
denominações religiosas, principalmente as Igrejas Presbiterianas, passaram a
ganhar visibilidade após a publicação de um documento no qual as igrejas
evangélicas deveriam se comprometer com as novas questões sociais que se apresentavam
na realidade daquele momento: o denominado Pacto de Lausanne.
Com a declaração deste Pacto, fruto do Congresso
Internacional de Evangelização Mundial, que reuniu 2700 líderes de igrejas
evangélicas na Suíça, em 1974, deu-se grande ênfase para a necessidade de
evangelização das sociedades não-cristãs, sendo lembrada, não obstante, a
importância de uma maior atenção à área social.
Todavia, não significou tal Pacto o incentivo para o
envolvimento com questões políticas.
Postulamos que a intenção era o incentivo para ações e
atividades junto àqueles que estivessem em situação de pobreza e que não
tivessem acesso aos bens e serviços da comunidade, já que ao longo do documento
não se observa qualquer alusão aos problemas econômicos ou político das
sociedades latino-americana e européia.
Reforçamos tal afirmação com o fato de que em 1989 ter
ocorrido o II Congresso, de onde se organizou o movimento internacional
denominado AD 2000 e cujo objetivo principal foi “mobilizar a Igreja de Jesus
Cristo em sua tarefa de levar o Evangelho para todas as pessoas e plantar
igrejas em todo o mundo”.
No Brasil, sua principal tarefa foi “estimular, motivar e
criar redes de trabalho junto aos mais variados segmentos da Igreja
Evangélica”, pouco abordando, também, os problemas sociais e políticos, mas a
evangelização de crianças e adolescentes, homens e mulheres.
Acreditamos que uma possível forma de concretizar a
evangelização foi por meio da criação de instituições sócio-assistenciais e
campanhas de solidariedade, quando houve a possibilidade de maior contato com
diferentes segmentos sociais, principalmente os de baixa renda.
Outrossim, há que se destacar que muitos de seus fiéis também
são excluídos dos bens e serviços da comunidade, vivendo em pequenas casas que
não conseguem abrigar todos os membros, sobrevivendo com alimento que não é
suficiente para matar a fome de todos, o remédio que não pode ser comprado
porque não há o dinheiro necessário, a violência doméstica.
Situações que são enfrentadas cotidianamente, exigindo das
igrejas uma atenção que vai além de orações, já que os fiéis vão à igreja em
busca de solução para seus problemas cotidianos.
Foi nesse período que algumas igrejas pentecostais, não
obstante sua ação centrada na oração, com o reforço da subjetividade e da
emoção, também voltaram sua atenção para homens, mulheres, crianças e idosos
carentes de bens materiais e serviços sócio-assistenciais.
Contudo, essas ações partiram da iniciativa de pastores que,
ou possuíam uma formação religiosa mais aprimorada, com conhecimentos
teológicos, filosóficos e legais, levando-o a dedicar-se a uma atenção mais
planejada e sistematizada à população carente; ou de pastores que levados por
motivações pessoais, voltaram-se para esta área, mas expressando dificuldades
tanto de explicar esta motivação, quanto em levar o trabalho adiante.
Em entrevista com pastores de igrejas pentecostais, indagados
quanto aos motivos da existência de indivíduos e famílias pobres, a resposta
nos leva a perceber que a concepção de mundo dos líderes das igrejas são
semelhantes, isto é, a idéia de que a pobreza decorre de uma situação
individual, tanto do que tem mais, porque movido pelo egoísmo, pelo anseio do
ganho fácil, quanto do que nada tem, porque falta-lhe vontade e preparo para
enfrentar e viver em comunidade.
Verifica-se que as denominações religiosas de modo geral, não
adotam como política de ação a criação e manutenção de instituições
sócio-assistenciais, ou mesmo o incentivo para seus membros realizarem
atividades assistenciais.
São ações ancoradas em um trabalho individual, centralizado
no pastor ou pessoas de sua confiança, não um trabalho de um grupo ou da
própria instituição religiosa, porque não é uma ação prevista e planejada nos
estatutos da mesma.
Na verdade, o pouco interesse das igrejas desenvolverem
atividades sociais justifica-se pelo fato de elas construírem sua teologia
tendo por base a bênção do Espírito Santo, ou seja, aquele que se converte e
recebe o batismo do Espírito Santo, tem a possibilidade de fortalecer-se
perante as agruras da vida cotidiana, como o desemprego, a fome, a doença.
As obras deixam de ser essenciais porque não são elas que
levarão à libertação e à salvação, mas a justificação pela fé.
Acreditamos que a entrada de igrejas nessa seara, isto é, a
ação social, é motivada pelo crescimento do número de pessoas vivendo abaixo da
linha de pobreza, entre elas, seus fiéis, que vão em busca de solução para seus
problemas imediatos.
Em um mercado tão competitivo como o religioso, apresentar
novos serviços possibilita aumentar o número de fiéis, além de demonstrar
respeitabilidade porque preocupados com os problemas sociais.
Há que se destacar ainda, a omissão do Estado na busca de
respostas para os problemas sociais.
A intervenção estatal na área assistencial configura-se como
uma ação emergencial, fragmentada e autoritária – porque o assistido deve
atender aos critérios estabelecidos para ser atendido – e não um serviço para
assegurar e estender os direitos sociais aos que se encontram em precárias
condições de sobrevivência.
É a partir dessa perspectiva que o poder público incentiva a
solidariedade, que deixou de ser um instrumento de união entre indivíduos ou
mesmo entre grupos e classes sociais para tornar-se uma ferramenta nas mãos do
Estado para omitir-se na garantia do mínimo necessário para a sobrevivência dos
excluídos sociais, incentivando, para tanto, a criação de uma rede de
solidariedade, e tendo as igrejas de diferentes denominações religiosas como um
dos principais sustentáculos desta rede.
E as igrejas não se omitiram, ao contrário, a partir de seus
princípios e valores responderam a esse chamado, criando e administrando
instituições sócio-assistenciais.
Considerações finais Igreja Católica e as igrejas
protestantes e pentecostais apresentaram, a partir de suas doutrinas e
concepção de fé e de mundo, respostas diferenciadas para o mesmo problema:
enquanto para a Igreja Católica a atenção aos mais pobres se faz exercer de
forma sistematizada desde sua expansão pela Europa, como possibilidade de conquistar
espaço político e social e garantir a salvação por meio de obras, para as
igrejas evangélicas históricas e pentecostais, as obras não levam por si só à
salvação, mas apenas a fé em Deus e seu filho Jesus.
Não obstante, independente de definições e intenções na
prática da caridade cristã, verificamos que a negação do conflito gera uma
relação que se propõe de irmãos, mas não irmãos em condições de igualdade,
porque um está em melhor situação social e econômica do que o outro: o que tem
mais conquista a redenção através da doação, da esmola, visto que o Reino de
Deus não é acessível para quem tem muitos bens materiais e não ajuda aquele que
não tem condições de se manter; e o que tem menos permite que ambos conquistem
a salvação, porque aceita sem reclamar o que lhe é dado, já que por sua
inaptidão, não conseguiu sobreviver sem a beneficência de outrem. Enfim, uma
mútua aceitação.
Essa situação resultou em uma relação de submissão, na qual
aquele que tem menos sujeita-se à vontade de quem tem mais, pois sua condição é
conseqüência de problemas individuais que não foram superados por si,
necessitando da intervenção do outro em melhores condições materiais.
Além disso, possibilita ao Estado continuar omitindo-se no
atendimento a população carente de bens e serviços, bem como a busca de
soluções para a superação da miséria em que vive um número escandaloso de
homens, mulheres, idosos, crianças e adolescentes de nossa sociedade.
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sociedade visigoda nos séculos VI e VII: um estudo comparativo dos modelos
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(Mestrado em História Comparada)
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FRESTON, P. Breve história do pentecostalismo brasileiro. In:
Nem anjos nem demônios: interpretações sociológicas do pentecostalismo. 2ª ed.
Petrópolis: Vozes, 1996. p.67 – 159.
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no Brasil: esboço de uma interpretação histórico-metodológica. 7ª ed. São
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MENDONÇA, S.R., FONTES V.M. História do Brasil recente: 1964
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Londrina: 1964 – 1988. 121 p.
Assis, 1999. Dissertação (Mestrado em História Social) –
Faculdade de História, Universidade Estadual Paulista.
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